Rosângela Barcellos, Master Certified Coach pela ICF
Integrative Development Practitioner
Masterful Mentor Coach pela Impact Coaching Academy
Immunity to Change Map Facilitator
www.linkedin.com/in/rosangelabarcellos
Quais histórias você tem contado para si mesmo que podem estar desacelerando sua evolução pessoal e profissional? Atuando com lideranças há mais de duas décadas, deparo-me continuamente com histórias contadas nos bastidores de meus atendimentos de coaching e mentoria. Para ilustrar este cenário e tema instigante, citarei abaixo dois ‘cases’ com nomes fictícios que têm sido recorrentes e interessantes para estudo e reflexão.
Imagine a seguinte cena: Pedro está em uma reunião corporativa e ocupa o cargo de gerente regional, ou seja, tem uma posição estratégica dentro da organização. Em um dado momento da reunião, seu colega fala algo que não lhe agrada; na verdade, o incomoda muito. Pedro se mexe na cadeira, começa a escrever em uma folha, fazendo rabiscos, de cabeça baixa, quase que sem parar, buscando driblar o incômodo. Fica visível que ele está ficando desconfortável com o que está sendo dito, mas, como sempre, deixa de se posicionar no momento certo e acaba saindo da reunião, mais uma vez, ‘entalado’ com tudo que gostaria de ter dito e não disse.
Essa cena foi verbalizada por Pedro muitas vezes. Inclusive, ele relatou em uma das sessões de atendimento em coaching que, no âmbito familiar, também tinha dificuldades de se posicionar como pai. Diante dos inúmeros pedidos dos filhos, sempre acabava cedendo.
O case descrito acima tem sido recorrente nas queixas escutadas nos bastidores do coaching de lideranças e também no coaching de carreira. Vamos pensar juntos: o que pode estar por trás desse entrave a ponto de impedir que Pedro tenha um posicionamento adequado e coerente com o papel que ocupa na organização, de permitir a ele que fale o que está pensando, em tempo real, posicionando-se enquanto gerente, em uma reunião estratégica que demanda, na verdade, seu posicionamento?
Tudo indica que Pedro estaria ‘preso’ em alguma história que seu emocional conta para ele, fazendo com que ele acredite e trave repetidamente, impedindo-o de se posicionar diante de seus incômodos. Ele sabe o que tem que ser feito, mas acaba andando em círculos e não sai do lugar. Essa repetição se perpetua, a ‘história contada’ repete-se muitas e muitas vezes, desacelerando sua evolução profissional e impactando negativamente sua marca pessoal. Talvez Pedro leve anos para mudar este padrão de comportamento. Curioso reforçar que Pedro sabe o que tem que fazer, até já recebeu feedback de que precisa se posicionar mais, mas na hora ‘H’ não consegue.
Robert Kegan, prof. renomado da Harvard University, pesquisador e estudioso da área do desenvolvimento de adultos, ‘pai’ da metodologia da imunidade à mudança, cita que nosso modelo mental comete erros e distorções, impedindo que novas ideias entrem em nossa cabeça, fazendo com que repitamos muitas vezes o mesmo comportamento. Essa citação explica um pouco sobre o comportamento de Pedro. Logo mais abaixo, ampliaremos esse conceito trazido por Kegan, com o objetivo de fundamentar melhor os cases apresentados neste artigo.
Vamos observar outro case interessante, que tem sido recorrente nos meus bastidores de atendimento de coaching e mentoria.
Sandra é uma profissional de destaque, ocupa uma posição executiva dentro de uma conceituada organização e tem uma líder imediata que está com ela há alguns anos. Aparentemente, parece não haver dificuldades com a Sandra, mas ela reclama de uma sensação de ser ‘fake’. Essa foi a fala dela, quando iniciou seu atendimento comigo em coaching executivo de carreira, querendo entender melhor o motivo de ter sempre esse pensamento recorrente de que não era boa o suficiente. Relatou uma cena corriqueira entre ela e a líder imediata dela para ilustrar seu desconforto. Confidenciou que, quando sua líder imediata entregava nas mãos dela uma missão e dizia que confiava que ela iria cumprir, ela prontamente ‘abraçava’ o projeto e dizia para ela: ‘pode deixar comigo, eu me viro’, mas na hora que virava as costas e retornava para sua sala, o pensamento retornava à cabeça dela, ‘será que você vai dar conta mesmo, o que ela viu em você para dizer que confia que você irá dar conta?’ ‘Ela deve estar louca…’
Sandra relata que essa ‘conversa interna’ a perseguia sempre, inclusive na vida pessoal, estava exausta de sempre duvidar de seu potencial, desconfiando da sua capacidade de entrega!
Vamos olhar mais a fundo esses dois cases ilustrados. Percebem-se algumas similaridades: há sempre uma história contada pelo emocional, à qual Sandra e Pedro se rendiam, impedindo-os de agir de forma diferente. Não se trata de uma narrativa racional, pois ela se repete sem que haja fatos concretos que a sustente. Pelo contrário, Sandra era bastante requisitada e bem-sucedida com sua líder imediata. Ainda assim, essas histórias continuavam vivas, funcionando como uma cilada emocional — uma armadilha na qual ambos caíam repetidamente. Mas o que acontece que caímos nestas armadilhas, principalmente quando o assunto é mudar?
Kegan argumenta que as pessoas muitas vezes resistem à mudança, mesmo quando desejam mudar, devido a crenças profundamente enraizadas e padrões de comportamento que atuam como uma “imunidade” contra a mudança.
Recentemente, li um livro de Richard Barrett intitulado O que minha alma me disse — uma temática instigante, diga-se de passagem. Nele, o autor lança luz sobre as crenças, afirmando que elas são esquemas iniciais desadaptativos, geralmente resultado de experiências disfuncionais com pais, irmãos ou colegas nos primeiros anos de vida. São estruturas profundas e enraizadas, formadas há muito tempo, mas que continuam ativas no presente, mesmo quando a pessoa alcança sucesso na vida profissional.
Podemos perceber o quanto este processo de mudança é complexo e enraizado. Após anos atuando com a abordagem da Imunidade à Mudança, de Robert Kegan, noto que os comportamentos recorrentes, como os citados nos cases acima, acabam se consolidando, tornando-se padrões de comportamentos. Esses padrões geram a mesma sinfonia, criando histórias emocionais inconscientes que, ao longo dos anos, tornam-se verdades absolutas e imunes à mudança. Em outras palavras, elas funcionam como proteções/barreiras que levam você a evitar ou postergar a mudança que precisa e deseja fazer, impedindo o aceleramento de sua evolução profissional e pessoal. E o pior, 95% das vezes, para não falar 100%, são ‘fakes’, até porque uma ou outra história podemos validar, afinal, somos humanos e complexos, como tal.
Mas que história o emocional de Pedro lhe contava, a ponto de ele sempre cair nela e não conseguir se posicionar? Bom, Pedro descobriu, através da metodologia da imunidade à mudança, uma abordagem potente que possibilita um aumento significativo da autoconsciência, que seu emocional lhe pregava peças, convencendo-o da história de não se posicionar porque, se o fizesse, ele seria ridicularizado, sua opinião não seria aceita e o pior, seria visto como incompetente. Claro que este enredo não estava consciente para Pedro, precisou de uma ajuda profissional para ampliar suas lentes e conseguir criar coragem para se posicionar, e quando o fez, para sua surpresa, todos o escutaram, não foi ridicularizado, pelo contrário, sua credibilidade aumentou.
E Sandra, por sua vez, se deparava com uma história que a perseguia sempre, termo usado por ela mesma, pois sempre se convencia de que não era capaz, gerando dúvidas eternas sobre sua capacidade, mesmo tendo indícios fidedignos de que, no final, era capaz!
Ouse, por um instante, pensar antes de seguir a leitura: em qual enredo Sandra estaria presa? Talvez você conclua que a história contada por seu emocional dizia que, se ela acreditasse ser capaz, boa o suficiente, e confiasse em seu próprio potencial, teria que enfrentar o medo de falhar. Assim, desconfiar constantemente de si mesma a protegia do medo do fracasso, na verdade, do medo do seu sucesso, da sua potência, porque, no fundo, ela descobriu que sempre dava conta das missões que sua líder imediata lhe trazia, não existiam fatos racionais que provavam o contrário!
Podemos perceber nos dois cases que as histórias que contamos para nós mesmos são, na sua grande maioria, ‘fakes’. Essas histórias estão ancoradas em cenas, traumas e vivências passadas que, por algum motivo, foram criadas pelo nosso inconsciente para nos proteger de algo ameaçador. O problema é que arrastamos elas para nosso cotidiano e, mesmo passando anos, elas tornam-se presentes e vivas no nosso emocional, virando armadilhas poderosas que nos impedem de voar e de nos aproximarmos da nossa essência.
E você, qual enredo está impedindo você de aproximar-se da sua história essencial? Desejo que você ouse saber e encontre sua verdadeira história, ela pode estar te esperando há anos!
Palavras-chave: histórias, fakes, imunidade à mudança, evolução, potencial.